quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Recorde Tocantinense feminino 113km

Vocês querem saber como foi o recorde dessa vez em Axixá?
Vou tentar contar um pouco sobre.

O pelotão foi mais que perfeito:
Eu, Arthur, Cabeça (duplo), Carlão, Dadai, Major e Ney. Imaginem só um pelotão que já estava em sintonia à dias, todos voando juntos.

Foi muito bom esse voo, seguimos todos juntos até Araguatins, estava lindo demais todo mundo junto, alguns tiveram uma saída mais difícil, mas seguiram sempre a frente conosco, mesmo voando bem baixo.
Quando atravessamos do Estado do Tocantins para o Pará, acabamos nos dividindo e formando 3 pelotões, eu permaneci no Pelotão do Major e do Dadai, na realidade o voo estava a caminho de uma roubadaça e eu tinha que escolher seguir com algum pelotão que tinha o Spot ou poderia virar lenda e o Major era o que estava mais perto, caso contrário era virar lenda mesmo, fazendas enormes sem atividade nenhuma, sem nem ter como explicar onde estava, nenhum ponto de referência, nada, necasdipitibiriba. E isso no Parazão doido, terra sem lei.
Major e Dadai estavam o tempo todo tentando manter no asfalto, mas estava bem pesado o voo para continuar próximo a estrada e eu cada vez mais longe deles, eu estava tentando, mas a deriva estava muito forte jogando pra roubada mesmo, dava para avistar o Cabeça e o Arthur muito longe, mas muito longe mesmo, bem pra esquerda, dois pontinhos no meio do nada, e eu acabei indo pra rota do vento, não estava dando pra brigar mais, isso além de me atrasar estava deixando o voo muito difícil, iria acabar perdendo tudo e pousando e não era o que eu queria em hipótese nenhuma estava muito cedo e neste momento eu já começava a ficar baixo e nem conseguiria chegar mais no asfalto, optei por meter pra dentro da fazenda mesmo.
Confiei na condição que eu sabia que estava boa, acabou que os dois também desistiram de seguir pela estrada, estava inviável e nos embrenhamos pelas fazendas a dentro, fiquei até mais tranquila por não estar mais sozinha, mas eu estava decidida e já tinha até ido.

O Major passou foi baixo nesse voo e eu acima dele rezando pra ele não pousar porque caso contrário na roubada que estávamos eu também iria ter que pousar junto com ele kkkkk
Acho que fui segurando o Major lá de cima mesmo...teve uma hora que pensei: "agora ele ligou o motor escondido" Não era possível, a altura que ele estava, rendeu pra caramba, eu de olho nele o tempo todo com medo de ter que pousar. Teve uma hora que ele resolveu passar uma "mata atlântica" e ele passou inteirinha muito baixo, praticamente rastejando...rsrsrs e num é que consegui?. Mata atlântica é zoeira hein gente, pelamordedeus kkkkkk estávamos no cerradão brabo, mas neste ponto, não existia pouso, tinham muitas árvores sem brecha nenhuma pra pouso, mas árvores de cerrado que são baixas.

Chegamos aos 104kms mais ou menos os três juntos, eu já estava eufórica. Major chegou no asfalto e pousou na tábua da beirada, no final do último suspiro da travessia da mata, foi aquele UFA...ele chegou bem, ai estávamos eu e Dadai ainda no jogo. Dadai super alto e eu já olhando pouso ou procurando termal. Ainda eram 16h e estava bem baixo.
Major me passa o rádio pro Dadai, vem Dadai, bora ali beber alguma coisa, eu pensei com meus botões: "Vou nadar nadar e morrer na praia?"
Dadai logo falou que já estava descendo.
Eu continuei, vi uma coluna urubus do outro lado do asfalto, o vento estava apertado, não daria pra voltar, era decisão única. ir e fazer de tudo pra ganhar porque embaixo só nelore, pensa que maravilha eu pousar com esses bichinhos, e pior não eram poucos não...kkkk só pensava na selete que demoro pra desconectar, não dá nem pra sair correndo.
Na minha reta e na reta da termal tinha uma estrada de terra retinha, perfeita pra bater o recorde.
Ai o Major passa no rádio: Marcinha...você vai continuar nessa roubada mesmo??? Estamos indo pra cidade, pega uma carona e volta ok?
Ai o bicho pegou, eu no Parazão sozinha, mas pensei, vou nessa, hoje bato esse recorde.
E danaram a falar no rádio, até que falei: tá bom, tá bom, já estou indo pra pouso... fala sério que eu ia morrer na praia, tá doido? Além do pouso estar entupido de nelore porque eu já tinha derivado pra fazenda e como falei não teria volta, fiquei enrolando na termalzinha que estava e fui subindo subindo subindo, bem devagarinho. Quando dei por mim, já estava alto e só falei no rádio...tô seguindo, nos vemos daqui a pouco.
Ai eles tocaram pra cidade com o resgate e eu fiquei de arrumar uma carona por lá, o que me freiou de ir mais distante, o medo de pousar no Pará.
Foi a última tirada, estava com medo da roubada, estava com medo de escurecer e ficar sozinha, tantas histórias do Pará, que decidi só bater a meta nesse planeio final, mas dava pra ter ido uns bons 10km a mais.

Pousei em uma fazendinha que já estava até vendo um jovem mexendo com as vacas, vocês acreditam que pousei bem atrás dele e ele não viu nada? Enquanto eu dobrava o equipo correndo, ele entrou pra casa da fazenda, meu Deus que medo, eu tinha que passar umas vacas enormes kkkk.
Quando cheguei perto da casa foi o maior medo de ter cachorro, e tinha, mas graças a Deus estava preso.
Bati e bati palmas e ninguém escutava nada, todos no fundo da casa rindo e falando alto, até que de repente aparece uma criança e fala: Mãe, tem gente aqui.
Salva, graças a Deus. O rádio já não funcionava mais, ai pedi pra me ajudarem, se seria possível eu usar o telefone deles ou se eles poderiam me levar até a cidade que eu pagaria a gasolina.

Gente, sentei, comi bolo de chocolate, tomei refrigerante, eles se arrumaram a família toda e iam me levar na cidade na maior boa vontade do mundo. Fomos batendo o maior papo, super legal, no meio do caminho o rádio da sinal de vida e era o Bruno atrás de mim. Acabamos nos encontrando e a família ficou bem triste de terminar o passeio por ali, acho que era uma desculpa pra eles irem até a cidade.
E eu gritando de alegria com o meu novo recorde já junto com o Bruno indo sentido a São Domingos do Araguaia, e foi lá que fui recebida por todos, que alegriiiiiaaaa.
Estávamos todos loucos pelos 3 dígitos, pois a condição não estava redonda ainda, foram dias cansativos que não rendiam muitos kms.
Mas neste dia foi incrível, todo mundo chegou aos 3 dígitos, juntos voamos longe e foi maravilhoso.
Fiquei mais dois dias em Axixá e segui viagem para o Acroland com o Louzada, ai depois que pegamos a estrada, vou falar uma coisa pra vocês, a condição ficou perfeita e bateram o recorde Tocantinense, foi lindo.
Eu fico com o feminino, e convido a todas as feras do voo livre, virem compartilhar experiências aqui no Tocantins, será magnífico aumentarmos esses kms feminino.

A felicidade em atravessar o Rio Araguaia, rumo ao recorde.

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Como é a vida do Piloto em uma competição de cross livre?

Vou falar pra vocês como é mais ou menos estar em um ambiente de voo livre para bater metas, recordes e voar todos os dias seguidos sem descanso. 

Acordamos bem cedinho, o equipamento já tem que dormir pronto para não esquecermos nada que seja essencial. Tomamos café e logo subimos a Serra, nisso já estamos em cima da hora de dar uma olhadinha na rampa para a condição, avaliar e nos preparar para logo decolar.

Não dá pra conversar muito, todo mundo concentrado, a fila da decolagem é gigantesca, rampa lotada, mais de 60 Pilotos prontos só esperando a hora certa, isso num sol de rachar cheios de roupas de frio, porque o voo é alto, demorado e vai esfriar muito. No cerrado então, temos um voo bem característico que pode vir a dar pneumonia, porque sobe esfria muito, desce esquenta muito e se for este voo sobe e desce e o Piloto não estiver bem agasalhado, ele terá problemas. Já fiquei um mês com uma sinusite pesada devido a um voo como este, pousar que é bom, jamais kkkkk, queremos sempre bater nossas metas.

Alguns Pilotos como eu levam lastros, o lastro é um peso com água para chegarmos ao peso ideal do equipamento, sempre em busca do melhor desempenho da máquina. Eu levo mais ou menos uns 6kg, e quando ficamos muito tempo já conectados ao equipamento e carregando esse peso na rampa esperando nossa vez de decolar, isso já cansa muito. Então o correto mesmo é se conectar exatamente na hora que for sair, assim também gera menos tensão, menos adrenalina, menos cansaço. Hoje me parece que seria permitido levar até 30kg de lastro em uma competição, o que acho extremamente fora de lógica, mas...

Na hora que começam as decolagens existe uma fila, alguns desistem pra esperar um novo ciclo  e passam a vez, outros vão assim mesmo tentando sustentar no que tem ou tentando já ser mais rápido na prova, outros têm muita dificuldade em inflar a vela na condição que está (um pecado para competidores, pois estes devem estar com o equipamento na ponta dos dedos, bem afiados e sem chances de erros), pode ser uma decolagem de rajadas, pode ser uma decolagem de vento lateral, pode ser uma decolagem de termal, o que vai definir será o dia e isso só vai depender da habilidade do Piloto na sua decolagem, colocar a vela na cabeça e simplesmente ir, mas confesso que tem dia que vira um show de horrores, aquela saga de ir, porque está olhando o coleguinha ganhando tudo na cara da rampa e fica louco pra embarcar naquela subida junto na termal e alguns esquecem que antes de estar na térmica que vai leva-lo pra bem alto, ele tem que sair do chão, e acaba saindo de qualquer jeito. É fundamental os treinos solos pra vida toda, justamente pra dar tudo certo na decolagem seja a  rampa que for, pois nunca serão iguais, seja quão turbulenta for, seja qual inclinição for, se o Piloto tem um bom controle de vela, tudo vai dar certo, e muitos não tem.

Depois que decolamos, a concentração aumenta, os dias pares giramos na frente da montanha para a Direita, dias ímpares giramos na frente da montanha para a esquerda, regra de qualquer competição, pra não ter batida no ar, mas nem sempre todo mundo respeita, principalmente quando não é feito um briefing e vira uma loucura, tipo um kamicaze voando pra esquerda enquanto uns 30 voam pra direita, suicida na minha opinião e pior, quer levar todo mundo junto. Chamamos de espanta bolinho, porque todo mundo vai sair daquele lugar, mas esse tipo de piloto sempre leva uma punição, dependendo da boa organização do evento.

A tirada* é fato durante o voo, já que o mesmo é de distância, assim que estamos no ar, tudo muda, nossa análise vai de acordo com o início do voo, pois pode ser que acima tenha uma camada de vento diferente e nós voamos a favor do vento, para otimizar a distância percorrida com mais velocidade.

Alguns voam em equipe, falando no rádio onde está subindo, outros só no visual, e assim vai um salvando o outro, outros voam sozinhos mesmo. As vezes o Piloto tem o seu próprio resgate, o mesmo já vai andando de cidade em cidade, a medida que o Piloto vai passando no rádio sua localização e para onde ele está seguindo, essa é a melhor parte, o resgate estar bem abaixo de você.
A maioria das vezes que voei pra longe, não tive resgate sempre contei com a sorte das boas caronas, uma vez apenas fiquei muito preocupada em não conseguir carona, pois voei para uma cidade muito pequena, movimento quase zero na estrada, mas desta vez em Jaraguá estava com resgate todos os dias. Também temos um aparelho que mostra nossa posição ao vivo, facilita muito na hora de ser resgatados.

Passamos de 4 a 5 horas voando, quando o voo vai bem. Pousamos no entardecer, pelo menos este é o objetivo. Temos pouco tempo pra dobrar tudo e correr pra estrada ou pro resgate nos pegar ou pra arrumar a bendita carona.
Quando estamos com o resgate, costumamos levar de uma hora e meia a duas horas para retornar a cidade, isso já vai dar umas 19:30 / 20:00h, é o tempo de comer, chegar no hotel, arrumar as coisa para o outro dia, tomar um banho e dormir, que já vai ser lá pelas 22h. É tudo muito corrido, pois o preparativo no próximo dia começa cedo.

Uma saga, o tempo passa voando literalmente conosco, mas é tão bom, só quem voa sabe o quanto é bom dormir, sabendo que vai voar no dia seguinte e no seguinte e no seguinte....

Claro que cada um tem seu ritual durante a competição e seus segredos estratégicos rsrsrsrs

Que venham muitas para nos divertirmos!

Viver para Voar, Voar para viver.

Apoio especial hoje e sempre, Marré Infinito, me acompanhando nos ares!
Bora ali fazer uns kms?

* Tirada - é quando os Pilotos ganham a altura suficiente para começar seu voo a favor do vento, indo para trás da montanha e começando sua quilometragem.

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