terça-feira, 7 de setembro de 2021

Voltando no tempo...Como tirei minha carteira de Piloto.



Enquanto passava férias em BH em 2004 consegui acompanhar a famosa Corrida Maluca, organizada pelo Patolino - Serra da Moeda Escola de Voo Livre, era fantástica, além de muito divertida com os nomes das equipes, era uma interatividade com todos os pilotos.
Para quem não conhece a Corrida Maluca é formada por equipes e cada equipe tem um integrante de cada nível de Voo, assim todos participam e todos aprendem e ensinam muito, o melhor de tudo, é que todo mundo saia muito feliz. Uma competição que virava brincadeira. Tive a oportunidade de participar de uma depois que já estava formada, essa história é muito boa pra contar...kkk Chamávamos "Cupê mal assombrado", um dia conto pra vocês.

Após muitos treinos em 2004 já estava bem melhor, treinei demais a bendita decolagem invertida. Pra quem não sabe, quando aprendi a voar de parapente em 2002, só usávamos a decolagem alpina. E quando passei  férias em BH em 2003 tratei de correr atrás da minha carteira de Piloto, mas não deu tempo, pois eu teria que aprender a decolagem invertida e aprender emm poucos dias foi difícil porque tinha uma pressão interior, a Mente, nos atrapalha muito.

Quando voltei pra casa , eram treinos deliciosos no Espaço Cultural, riamos muito e nos divertíamos muito e o melhor, tirávamos apenas uns centímetros os pés do chão e a sensação sempre era maravilhosa, estava dedicada para os treinos com a decolagem invertida, passava horas treinando no sol quente, mas nunca cansava disso.

Mais uma vez entrei de férias e me mandei pra BH, contava os segundos pra isso, chegando lá entrei em contato com o Wander, para terminarmos finalmente o curso (em 2003 eu havia iniciado uma reciclagem com ele, foi quando fui cobrada pela decolagem invertida e não tinha conhecimento nem prática, na realidade nem sabia que ela existia). Infelizmente o Wander estava no Canadá, eu só tinha 15 dias de novo, e o tempo correndo. Ai que entra meu amigo Patolino e sua Serra da Moeda Escola de Voo Livre.

Eu tinha apenas 11 dias quando consegui um retorno do Patolino. Combinamos 10 dias corridos de aula.
Aulas todos os dias e quem seria o professor era o Aurélio, pois o Glayson (Patolino) trabalhava em um banco na época e teria apenas os finais de semana livres, como aconteceu com o Wander, por isso não seria muito proveitoso, achei ótimo ter esta opção de outro Instrutor.

Logo o Glayson ligou para o Aurélio, que era seu parceiro na Escola, fechamos como uma reciclagem.
Foram 10 dias sensacionais. Muito aprendizado, muito mesmo, Voo livre não tem fim nas descobertas, isso me fascina, nunca é igual, esse é o segredo, não há rotina.
Já estava no carro ás 7 da manhã com Aurélio rumo á Serra da Moeda, contando os segundos por este retorno.

Nessa época eram pouquíssimos Pilotos que frequentavam a Serra durante a semana. A rampa era praticamente nossa. As aulas foram intensas, Aurélio muito exigente, queria ensinar coisas muito importantes, mais do que estar no ar, ele queria ver resistência, explicar o céu , me ensinar a avaliar realmente a condição, foi um super instrutor que trago todos os ensinamentos comigo até hoje.

Foram treinos e treinos no chão, depois alguns Moedinhas, (para quem não conhece a Serra da Moeda, lá tem duas decolagens, cada uma para um lado da montanha, um Moedão 600m e um moedinha 160m), teve um muito marcante e engraçado, vou contar pra vocês, é rápido.

Um dia estávamos lá na rampa, eu já estava bem cansada, os treinos começavam cedo e terminava com o sol se pondo. Neste dia eu já estava muito cansada mesmo, estávamos vindo de uma maratona de treinos, mas nunca paramos. Para voar não temos limites, se tinha mais um Moedinha, eu estava lá, pronta. Na hora que ele falou: Está indo muito bem! Agora você vai decolar e pousar direto, quero ver seu pouso como está.
Decolei e fui pro pouso, não passou alguns minutos eu dobrando a vela, chega ele voando e gritando uhuuullll...foi ótimo seu pouso, parabéns. Estava sozinha lá embaixo e tomei aquele susto, ai resolvi perguntar, já que não tinha visto ninguém na rampa quando decolei: Quem vem nos buscar? E ele muito do engraçado, "ninguém", hoje não é treino de voo, é treino de pouso na roubada, resistência, vamos subir á pé. Imaginem minha cara de felicidade kkkk sem comentários. Mas tudo isso me ensinou muita coisa. Sempre que dava saudade eu subia Moedinha a pé, é uma terapia sabia? Que saudade! E subi algumas vezes, então pra vocês terem uma ideia, o hike and fly já estava na veia.

Após esse Moedinha veio meu presente. Meu primeiro Moedão. O voo tão almejado, estava literalmente nas nuvens.

Terminei o curso em BH, e para completar o curso era só ele o tão esperado - Moedão, nem acreditei quando fiz esse Moedão, estava ansiosa esperando por este dia tão especial, quem voa na moeda, e fica o tempo inteiro voando Moedinha, sabe bem do que estou falando, pois olhar aquele vale maravilhoso, nos deixa loucos de vontade de logo experimenta-lo.

Foi lindo, e rápido, mas não tão rápido na minha memória.

Quando decolei o Aurélio falou: Você vai direto pro pouso e vai dobrar a vela bem rápido, porque tem uma cortina de chuva logo na frente, ela pode ou não chegar e você vai ter que estar preparada. Segue minha foto do primeiro Moedão, gratidão Aurélio, sei que um dia este texto vai chegar até você, tenho certeza disto.

Peito pra frente, corre e não senta.

Sem palavras.

Meu primeiro pouso no Genésio, dei conta de me perder na estrada indo pro Élio, mas tudo bem, entrei na trilha errada, andei pra caramba kkkk.
Mineiro como bom mineiro não poderia ser diferente, perdi na estrada e a chuva havia chegado, cada pingo, quase do tamanho da palmas da minha mão, passei em frente a casa de uma senhorinha, aquele portãozinho de madeira e tramela e ela lá da varanda me assistindo andar com aquela mochila enorme nas costas, gritou: Ei, vem pra cá, sai dessa chuva, vem almoçar conosco.
Que senhora mais linda, nem sabia quem eu era e já me chamando pra ir pra sua casa. Pessoal muito acolhedor eu AMO Minas, mas infelizmente não teria como ficar, agradeci de coração e tinha que ir de encontro ao meu resgate.
Finalmente o Aurélio me encontrou, nem sei como porque hora nenhuma soube dizer onde eu estava kkkkk, e pra finalizar, só tínhamos uma coisa pra fazer, comemorar no Élio.

Foi lindo, estava flutuando, queria mais, não queria ir embora daquele lugar.

Finalmente apta para fazer a prova da ABVL hoje CBVL e poder voar por qualquer rampa do Brasil. Quem aplicou a prova foi o Michel Nazar, nos conhecemos na casa do Ronaldo, muitos encontros maravilhosos, nos divertíamos muito, teve um encontro com uma galera em plena segunda feira, era tudo surreal, todo mundo feliz, todos amigos, parceiros, quanta saudade tenho dessa época.

E praticamente no meu último dia em BH fiz minha prova, meu irmão quem me levou, sempre me apoiou e ajudou em tudo que precisei. Fiz a prova e passei, nossa estava realizada, feliz, só faltava o equipamento kkkkkkk, mas ter minha carteira de voo ABVL nível I era tudo naquele momento, eu estava formada, apta a voar em qualquer lugar e era o que eu mais queria.

E vou contar um segredo pra vocês, quando estamos felizes com o que temos, tudo de melhor acontece. Neste mesmo ano de 2004 consegui comprar minha primeira vela, estava no céu, meu sonho estava completo, foram 12 meses pesquisando, procurando e avaliando principalmente tamanhos. Vela do meu peso que até hoje é o mesmo e são raras, jamais poderia fazer um pedido de vela XS, era super especial na época, era uma encomenda que não cabia no meu bolso. A maioria entra no esporte assim, sem saber como vai acontecer a compra do primeiro glider, mas no final das contas quando estamos focados, tudo vem na hora certa.

Olhei todas as possibilidades, sempre fui a favor de comprar vela nacional, mas para comprar na época não era muito favorável, eu teria que mandar fazer realmente uma do meu peso, que seria XS, não tinha condições financeiras pra isso, era muito caro.

E um belo dia leio na lista Parapente BR, glider novíssimo peso 65-75, nooooossa, "essa é minha pensei", inocente coitada. Era um glider da Marcinha Parapente Sul, tinha ficado pequena pra ela pra minha sorte. Então entrei em contato com o Alemão, que havia anunciado a mesma, era um Sigma 4 S. Falei que estava interessada e como poderíamos fazer. Nem me respondeu kkkkkkk
Imaginem só, mulheres voando já eram raridade nessa época, como ia existir uma no Tocantins kkkkkkkkkkkk, nem eu iria acreditar.
Só que como o destino conspira a nosso favor, basta termos os pensamentos certos e fazer os pedidos certos...um belo dia chega em Palmas o Tiago Salvador, voando seu parapente de competição, lindo, uma tripinha, papo vai papo vem subindo pra rampa, aquela história toda de: "porque você ainda não tem um glider do seu tamanho?, Como assim glider M? Você vai se matar...(Voava velas enormes pessoal, era o que tinha aqui, e ficava muito feliz que as pessoas me emprestavam, sou grata demais por cada um que me ajudou)"
Ai mencionei que o Alemão estava vendendo na lista um glider ideal, mas que estava difícil ele mandar, queria mandar só se fosse pra comprar e eu não queria comprar sem ver, do jeito que todo mundo falava que glider de praia era um bagaço, falei, manda o glider que conversamos (Alemão, desculpa, eu não te conhecia e você não me conhecia kkkk, tinha que me precaver).
Gente, inacreditável, mas é verdade o que vou contar pra vocês agora, Tiago vira pra mim: "Como é que é? Alemão tem um glider desse tamanho lá? Peraí, vamos resolver agora." Pegou o telefone e discou direto pro Alemão, e danaram a conversar outras coisas até que: "Estou com a Marcinha aqui  no Tocantins, manda esse glider pra mim hoje"
Juro, em dois dias o glider estava na minha mão. Lindaaaaaaaaaa, vermelhão cor de sangue vivo, brilhando cintilante, zerada gente. Falei: Essa é minha, daqui não sai mais. Abri ela na sala da minha casa e falei pra minha mãe: Sei lá como vamos fazer, mas esse glider é meu.
Liguei imediatamente pro meu irmão que teria condições de me ajudar. Combinamos dele emprestar o dinheiro. Passei um mês testando o glider, coitado do Alemão, já estava impaciente. E foi um depósito só, deu tudo certo o glider era meu, um preço inacreditável, esses gliders eram muito difíceis de vender, por causa do tamanho e acabei tendo essa oportunidade incrível, coisas de Deus mesmo.
Como paguei meu irmão? Quando entrei na faculdade, minha mãe fez um consórcio de uma biz pra mim, foi meu presentão, troquei a biz em um glider, naquela época era viável rsrsrsr.

Ai sim a partir deste momento, comecei a voar de verdade!

Felicidade é pouco para o que eu estava sentindo.

Com amor,
Marcinha , )( ´




domingo, 5 de setembro de 2021

Brasil - O país que tem voo o ano inteiro

Outro dia conversando com alguns amigos, me atentei que muitos pilotos de fora do Brasil não conhecem sobre as melhores datas para visitar grandes rampas do nosso País, as vezes até Pilotos do próprio Brasil não sabem aonde ir nem que época ir.
Para Brasileiros isso fica muito fácil, basta acompanhar todas as competições do ano, com certeza elas estarão nos melhores lugares no ápice do voo, principalmente tratando-se de PWC e Brasileiro...competições de grande porte. Isto não quer dizer que o Piloto tem que ir na mesma semana da competição, mesmo porque as decolagens são restritas aos competidores, com fechamento de janelas para outros Pilotos, mas sim se atentar a época, se organizando para ir uma semana antes ou uma semana depois, ou até mesmo acompanhar ao vivo as competições, pois é muito legal e um rico aprendizado.
Bom, vou dar alguns exemplos bem clássicos.
Dezembro, janeiro e fevereiro é completo verão no Sul do País, então como vocês podem perceber as competições estão voltadas para lá, mas isso não impede de terem bons voos em outras épocas, apenas é a época que está no ápice.
Também os voos são maravilhosos nessa época do ano no Espirito Santo, especificamente em Alfredo Chaves...rs, um dos meus favoritos, infelizmente este ano a condição ficou muito instável, essa loucura toda que estamos passando no mundo afetou até a nossa natureza.

Junho, julho e agosto
Vamos direto pro centro do país, região Norte e Centro Oeste, pegamos as melhores condições de voo. Os Estados de Goiás e Tocantins, cerradão brasileiro, é a melhor época para saírem grande voos de distância. As rampas mais famosas são:
Jaraguá GO, que tem uma concentração enorme de Pilotos em julho e não sei se vocês acompanharam, mas ela está o triplo de tamanho e está ficando linda. Quem já foi sabe bem o potencial do cerrado, conhecem a competição de distância livre; o carro chega com facilidade até a rampa e os resgates são tranquilos, além de apresentar notam para o evento durante todo o mês de julho.
Brasília DF - Vale do Paranã, que cedia as maiores competições do brasil, tanto de asa delta quanto de parapente, o carro chega até a rampa, mas, se o Piloto vai direto para o pouso, o resgate leva aproximadamente uma hora para chegar até o mesmo, também apresenta notam durante os eventos principais e todos os finais de semana. Infelizmente essa rampa foi fechada, o processo esta em andamento, a galera está voando em Formosa.
Palmas TO - Serra do Carmo, o carro chega até a rampa, fácil acesso e o Notam apenas para competições.
Axixá TO - que vem mostrando todo seu potencial nos últimos anos.

Setembro
Vamos falar sobre Minas Gerais, morei muito anos em Brumadinho na Serra da Moeda, Minas chove muito de dezembro a Março, mas temos alguns dias de trégua também. Observando muito a fundo o local, Março é quando o teto começa a subir, podemos voar mais alto, mas os voos de distância ainda ficam restritos a encontros com CBs (aqui no norte chamadas de chuvas de manga), são as famosas chuvas localizadas. Sua alta temporada é setembro, assim como em toda Minas gerais, setembro é o ápice do voo livre, voos fortes, teto alto, isso engloba São Paulo, Rio de Janeiro e Espirito Santo, a região sudeste do país.
E agora após experimentar a queridinha do momento, falo que vale muito a pena conhecer Mateus Leme, que lugar espetacular, atualmente dono do meu recorde de distância.

Outubro e novembro
Meses espetaculares para Pilotos experientes que desbravam o nordeste, voos fortes, grandes recordes e muitos desafios. Cada ano que passa temos mais e mais conquistas, coisa linda de se ver, mas se voê for voar nesta região esta época do ano, tenha certeza do seu potencial, pois é casca grossa, decolar e não querer e nem poder pousar antes das 17h.

É isso galera, tenho muito orgulho do nosso país, podemos simplesmente voar o ano inteiro por aqui, basta saber para onde ir.

Bons voos e excelentes pousos, estamos de volta com nossas aventuras infinitas pelo Brasil, não deixe de acompanhar.
Com amor!

insta: @voafinelli

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